Tempo em tempos de quarentena

Há muito não escrevo. Já passei dos trinta há algum tempo, e agora de quarentena nos quarenta, em tempos de ter tempo num mundo sem tempo, tenho pensado muito em quantas coisas deveria ter feito, mas por receio, moral ou consciência, não o fiz. E agora, aqui, sozinha, dentro de um apartamento, onde o trajeto mais longo que percorro é da sala para meu quarto, tenho de sobra o que sempre me faltou, o tempo. Já esfreguei até o teto de casa, já lavei a roupa com água sanitária e já devo ter engordado uns dois quilos, o que significa, que se continuar assim, estarei evoluindo tanto quanto a peste que nos assombra, considerando que isso aconteceu em apenas um dia de isolamento. Bom, mas o fato é que de tanto tempo, comecei a lembrar dos amores deixados para trás e das decisões tomadas em base de um mundo incontrolável, que jamais suporíamos parar, onde o significado de alguém que ia embora era a certeza de que teríamos outra em seu lugar. Antes, tínhamos o mundo nas mãos, sem tempo, mas poderíamos fazer o que bem entendêssemos. O mundo era nosso, éramos livres e poderíamos ir aonde quiséssemos, o difícil era ter tempo para tudo. Hoje, o mundo parou, eu tenho todo tempo do mundo, mas eu já não posso ir aonde quero, porém, posso pensar no que eu quiser, em quem eu quiser, nas escolhas que fiz, nos amores que tive e naqueles que deixei partir. Ontem, conversando com minhas primas queridas, me senti na obrigação de dar um pitaco na vida de uma delas, quinze anos mais nova que eu, incrédula com o que tinha escutado do seu namorado de cinco meses, dei-lhe dois exemplos: o de outra prima e o meu próprio. O da minha prima casada, família constituída, com três filhos lindos, aliás se tem uma coisa que minha prima faz bem, são filhos (inclusive estou até achando que depois dessa quarentena o mundo poderá ganhar outra criança linda), e o meu próprio exemplo, solteira, livre, independente, com liberdade total de ir e vir sem nenhum questionamento, e expliquei-lhe que não há certo ou errado, e sim, O QUE TE FAZ FELIZ??? Mas também disse que a gente só sabe depois...Lembrando de alguém em tempos de quarentena... Que existem escolhas e que se eu soubesse lá atrás o que sei hoje, talvez, minha atitude fosse outra. Se soubesse lá que talvez o hoje não me permitisse ver algumas pessoas amanhã, pessoas protagonistas em viralizar paixões em mim, talvez o antes tivesse sido escolhido de maneira diferente. Existem pessoas que a gente conhece, ama e depois some. Eu conheci, eu amei, eu deixei. Também me tiveram, me amaram e me deixaram. E como sempre, fui embora, mas dessa vez, eu voltei. E todos os dias, a partir daquele dia, eu tive alguém que sempre insistia e eu nunca queria. Miscelânea de orgulho, valores, amor próprio diante de uma situação incompatível com meu querer. Só que eu fui embora de novo. Bloqueie de tudo, dos pensamentos, do coração, das redes sociais, e o que era para sempre, deixou de ser para sempre e voltou com sintomas de saudades, desejo, impotência e insegurança. Imergiu da alma, sem orgulho, preconceito ou medo. E me foi retribuído com gentileza, educação, amor e condolências de ajuda. Ajuda? Em tempos de hoje, onde a distância é muito maior que a geográfica, não há ajuda para desejos físicos, talvez e apenas para desejos da alma. Então minha prima, não é exatamente um exemplo, mas um desejo que foi aguçado devido as impossibilidades atuais, e sim, quando nos sentimos impotentes, a primeira coisa que pensamos é sobre nossas decisões, e todas as decisões tomadas refletem diariamente em quem somos e em quem nos tornamos, e repito, não existe certo ou errado, e sim a melhor decisão a ser tomada naquele momento. E aproveitando o esboço acima, você que sabe que também é o protagonista dessa inspiração, te digo que em fins de tempos, se soubesse lá aos trinta,o que vivo hoje, aos quarenta, eu até me arriscaria ter perdido minha dignidade e amor próprio por ti. Mas isso é hoje(lembre-se, hoje onde a distância geográfica apropriou-se de muito mais tempo, semanas, meses), pois talvez eu mude de ideia, talvez minha angústia de hoje não reflita meses posteriores, se advirem, óbvio. Mas hoje, saibam, você e minha prima, que hoje, eu deixaria meu orgulho de lado e assumiria o desejo arrebatador por ti. Te tomaria por completo e teria lembranças diferentes em tempos que o que mais tempos é tempo. ,

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